sexta-feira, 19 de outubro de 2012

12 de outubro


acho o dia das crianças uma data muito bonita. sempre achei, exceto quando fui criança. sempre me constrangi muito com essas datas comemorativas, festas familiares, distribuição de presentes. passar por essas situações era passar por uma provação social sem nenhum prêmio de recompensa. fui uma criança muito infeliz, incompleta, necessitada. nunca entendi nada direito, inventei muitas coisas para meu próprio deleite (ou desgraça), me isolei muito, li demais. fiz tudo errado tentando acertar. sempre convivi com muita dor com o amor obsessivo da minha avó, com o afastamento da minha mãe, com os sacrifícios do meu pai; pessoas que de alguma maneira me transmitiram algumas coisas de forma errada. não por culpa deles, é claro, mas por um desequilíbrio meu que nunca soube consertar. levei muito disso para minha adolescência, passei anos absolutamente transtornada, sem noção de realidade alguma, negando tudo o que pudesse me ajudar.
desaguei todas minhas frustrações e complexos numa vontade muito grande de dar amor, contra todas as previsões. me sensibilizo pra caralho com as pessoas, sinto muita compaixão. sempre fiz amigos maravilhosos, mas quase todas as vezes que me relacionei romanticamente foram com as pessoas erradas. tenho uma capacidade de perdoar que não sei de onde vem, nem se é saudável ou sintomática, mas que sempre facilitou a vida dos que se aproximaram de mim, em detrimento da minha própria felicidade. em anos muito ruins, conheci dois grandes pilares da minha existência: régis e mariana. ganhei tanto apoio, amei e ganhei tanto amor dos dois que hoje em dia não duvido mais da providência divina. minha adolescência não foi apenas uma continuação da minha infância problemática, mas uma época de desafios tão difíceis que alguma coisa dentro de mim sempre vai me considerar uma vencedora. passei pelos anos escolares sofrendo muito, nunca me adequei, demorei para aprender a lidar com a minha sexualidade atravessada, tive muitos romancezinhos e fui motivo de chacota em infinitas situações. não sei se amadureci muito rápido ou se não amadureci ainda: hoje em dia tenho plena noção do espaço que me cerca, mas ajo como uma criança saudosa muitas vezes. tenho menos coragem do que gostaria, é verdade, mas tenho um sentimento estranho ao ver que tenho mais coragem do que a maioria das pessoas da minha idade. não me considero velha, mas sei que já não sou uma garotinha. deveria ter muitas coisas resolvidas, não consigo me adaptar ao modo de viver da maioria, não entendo por que deixam tudo para depois.
nos últimos dois anos, me estabilizei emocionalmente como nunca pensei que conseguiria e sei que o ponto de partida dessa transformação é o marlon. meu namorado me ajudou a colocar muitas coisas no lugar e, pela primeira vez, convivo com alguém com quem posso dividir meus problemas e que, na medida do possível, torna as soluções mais fáceis pra mim. cresci, também, porque as fragilidades dele exigiram de mim uma força e uma abdicação que não tive a opção de negar. muitas pessoas me perguntam como consigo manter esse relacionamento à distância com tanta seriedade, e sempre respondo a mesma coisa: "cada um se vira como pode!", me parece tão claro. nunca sei se as pessoas são cegas ou insensíveis.



escrevi isso no último feriado, viajando com a minha família, por falta de coisa melhor para fazer. lembro que parei de escrever aí porque as crianças vieram me chamar para brincar.
(falei mais sobre mim aí do que em toda minha vida, ainda que pela metade)

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